sábado, 27 de setembro de 2014

MEDIDA DO PAUZINHO



Hoje de manhã, quando numa sapataria experimentava sapatos para calçar no inverno, o pensamento recuou alguns anos, levando-me até à minha infância.

Nesse tempo o meu pai quando queria comprar-me algum par de calçado, levava simplesmente um pequeno pau com a medida do meu pé e era esse o tamanho do sapato, bota ou sandália que comprava.

Por vezes, em vez do pauzinho levava um pequeno cordel, mas a medida tirada com o pau, dava mais certo.

O mesmo servia para levar ao sapateiro e encomendar o calçado que o homem fazia regulando-se pela medida do pauzinho.

Habituado a andar de pé descalço muito dificilmente os meus pés aceitavam calçado.

Recordo-me do esforço e sacrifício que foi calçar as minhas primeiras botas que o meu pai comprou para eu poder ir à escola primária.

À cautela ele havia comprado umas botas de tamanho um pouco acima do meu para que me servissem durante mais que um ano, mesmo que o pé crescesse.

Eu só as aguentava calçadas enquanto ia e estava na escola, porque à saída descalçava-as imediatamente pendurando-as ás costas.

Felizmente perdeu-se este costume da medida do pauzinho que pelo menos na nossa aldeia era uso, mas para que não se perca a memória, recordo-o nestas breves linhas.

Um bom fim de semana para todos!






terça-feira, 16 de setembro de 2014

MAQUIA



Há dias atrás falando com um amigo, sobre os "figos e figueiras algarvias" e da sua preocupação em fazer o "cambo" (apanha) do figo antes de chover, perguntei-lhe qual o destino que iria dar ao figo.

Disse-me que ia quase todo para a destilaria do "João Pauzudo" que lhe renderia cerca de 5 litros de aguardente, por cada 20 quilos.

Ou seja, o dono da destilaria retirando a "maquia" como paga do seu trabalho, entrega o restante aos clientes que lhe levam os figos.

Nos casos de pequenas quantidades de figo em que não dá para o homem retirar a "maquia" entrega toda a aguardente resultante do figo e o cliente terá de pagar o seu trabalho.

Na verdade conhecia o costume mas não recordava a palavra que me surpreendeu quando a escutei.

A conversa foi-se desenvolvendo à volta deste velho hábito que ainda perdura, até noutras situações, como é o caso do medronho e a sua aguardente, da azeitona e o azeite, do trigo e a farinha.

A propósito de farinha e do trigo antigamente quando se precisava, ia-se à mercearia entregava-se o trigo  recebendo-se a farinha retirando o comerciante a sua "maquia" que naturalmente seria maior do que se o trigo fosse entregue na moagem.

No passado, por falta de moeda corrente, a "maquia" era usada como pagamento em muitas outras situações.

sexta-feira, 5 de setembro de 2014

FIGOS ALGARVIOS V


Rebuscando na memória, recordo alguns dos "figueirais" que conhecia na Conceição de Faro, na sua zona de "sequeiro" e que em meados do século passado ainda produziam boa quantidade de figo.

 Próximo da minha casa nos Caliços, podia encontrar os figueirais do António Paula e do Agostinho, um pouco mais abaixo, no Chão de Cevada, tinha os do Bernardo Lolas e do Teresinha, enquanto na Ferradeira, eram os do José Figueiras, já na Canada, eram as figueiras da Quinta Grande (do Francisco Norte e do Joaquim Bernardo).

Certamente outros figueirais existiriam na freguesia mas estes são os que me ocorrem de momento, para além dos que se misturavam com outras árvores como as amendoeiras, alfarrobeiras e oliveiras.

Quanto ás variedades, eram os figos Coito,  S. Luis, Braçajota e Dois-à-folha que predominavam, fazendo as minhas delicias em frescos ou depois secos, moles ou torrados.

Também os apreciava "cheios" com miolos de amêndoa, açúcar, canela e erva-doce, numa antiga receita que também recordo:

Ingredientes:
  1. Figos secos brancos ou pretos
  2. Miolos de amêndoas
  3. Açúcar
  4. Canela
  5. Erva-doce
Confecção:
  1. Lavam-se os figos, sem os deixar encharcar, com água limpa e algumas gotas de azeite
  2. Enxugam-se os figos e põem-se a secar para eliminar a água da lavagem
  3. Prepara-se o recheio misturando açúcar, com uma pequena quantidade de canela e erva-doce
  4. Faz-se um pequeno corte no figo, para introduzir o recheio e termina-se enchendo com dois ou três miolos de amêndoa, conforme o tamanho do figo e dos miolos
  5. Põe-se no forno quente para torrar, tomando atenção para não torrar demasiado
  6. Finalmente retiram-se do forno, deixam-se arrefecer e podemos deliciar-nos comendo-os
No tempo em que se torravam no forno a seguir ao pão, costumava-se fazer um "enfiada" ou seja, enfiar uma linha pelos "picos" dos figos, juntando-os como se fosse uma "réstia", para mais facilmente  os colocar e retirar do forno.

Quanto aos "moles" a receita é mais simples:

Ingredientes:
  1. Figos secos brancos ou pretos
  2. Folhas aromáticas de Funcho, Louro, etc.
Confecção:
  1. Lavam-se os figos sem os deixar encharcar, com água limpa e algumas gotas de azeite
  2. Enxugam-se os figos e põem-se a secar para eliminar a água da lavagem
  3. Colocam-se numa caixa de madeira, em camadas bem acalcados (apertados) entremeados com as folhas aromáticas
  4. Tapam-se bem, fecha-se a caixa e aguardam-se algumas semanas até o cheiro das aromáticas estar perfeitamente introduzido nos figos
  5. Finalmente retiram-se da caixa apenas a quantidade que se pretende consumir no momento