"Conceição freguezia derramada por cazaes a N.O. de Faro, quasi toda em terreno plano e de boa produção de cereaes e algum figo. Igreja mediana em fábrica, junto á ribeira que vêm á ponte do Rio Secco na estrada de Faro, só com casas do parocho ao pé, o qual pagava outr´ora 400 réis por anno ao prior de S. Pedro de Faro, de reconhecença. Confina com Estoi ao N., S. João da Venda e Stª. Barbara a O., Faro a S., Pexão a E. ... antigo curato de apresentação do Bispo no termo de Faro..."
sábado, 27 de setembro de 2014
MEDIDA DO PAUZINHO
Hoje de manhã, quando numa sapataria experimentava sapatos para calçar no inverno, o pensamento recuou alguns anos, levando-me até à minha infância.
Nesse tempo o meu pai quando queria comprar-me algum par de calçado, levava simplesmente um pequeno pau com a medida do meu pé e era esse o tamanho do sapato, bota ou sandália que comprava.
Por vezes, em vez do pauzinho levava um pequeno cordel, mas a medida tirada com o pau, dava mais certo.
O mesmo servia para levar ao sapateiro e encomendar o calçado que o homem fazia regulando-se pela medida do pauzinho.
Habituado a andar de pé descalço muito dificilmente os meus pés aceitavam calçado.
Recordo-me do esforço e sacrifício que foi calçar as minhas primeiras botas que o meu pai comprou para eu poder ir à escola primária.
À cautela ele havia comprado umas botas de tamanho um pouco acima do meu para que me servissem durante mais que um ano, mesmo que o pé crescesse.
Eu só as aguentava calçadas enquanto ia e estava na escola, porque à saída descalçava-as imediatamente pendurando-as ás costas.
Felizmente perdeu-se este costume da medida do pauzinho que pelo menos na nossa aldeia era uso, mas para que não se perca a memória, recordo-o nestas breves linhas.
Um bom fim de semana para todos!
terça-feira, 16 de setembro de 2014
MAQUIA
Há dias atrás falando com um amigo, sobre os "figos e figueiras algarvias" e da sua preocupação em fazer o "cambo" (apanha) do figo antes de chover, perguntei-lhe qual o destino que iria dar ao figo.
Disse-me que ia quase todo para a destilaria do "João Pauzudo" que lhe renderia cerca de 5 litros de aguardente, por cada 20 quilos.
Ou seja, o dono da destilaria retirando a "maquia" como paga do seu trabalho, entrega o restante aos clientes que lhe levam os figos.
Nos casos de pequenas quantidades de figo em que não dá para o homem retirar a "maquia" entrega toda a aguardente resultante do figo e o cliente terá de pagar o seu trabalho.
Na verdade conhecia o costume mas não recordava a palavra que me surpreendeu quando a escutei.
A conversa foi-se desenvolvendo à volta deste velho hábito que ainda perdura, até noutras situações, como é o caso do medronho e a sua aguardente, da azeitona e o azeite, do trigo e a farinha.
A propósito de farinha e do trigo antigamente quando se precisava, ia-se à mercearia entregava-se o trigo recebendo-se a farinha retirando o comerciante a sua "maquia" que naturalmente seria maior do que se o trigo fosse entregue na moagem.
No passado, por falta de moeda corrente, a "maquia" era usada como pagamento em muitas outras situações.
sexta-feira, 5 de setembro de 2014
FIGOS ALGARVIOS V
Rebuscando na memória, recordo alguns dos "figueirais" que conhecia na Conceição de Faro, na sua zona de "sequeiro" e que em meados do século passado ainda produziam boa quantidade de figo.
Próximo da minha casa nos Caliços, podia encontrar os figueirais do António Paula e do Agostinho, um pouco mais abaixo, no Chão de Cevada, tinha os do Bernardo Lolas e do Teresinha, enquanto na Ferradeira, eram os do José Figueiras, já na Canada, eram as figueiras da Quinta Grande (do Francisco Norte e do Joaquim Bernardo).
Certamente outros figueirais existiriam na freguesia mas estes são os que me ocorrem de momento, para além dos que se misturavam com outras árvores como as amendoeiras, alfarrobeiras e oliveiras.
Quanto ás variedades, eram os figos Coito, S. Luis, Braçajota e Dois-à-folha que predominavam, fazendo as minhas delicias em frescos ou depois secos, moles ou torrados.
Também os apreciava "cheios" com miolos de amêndoa, açúcar, canela e erva-doce, numa antiga receita que também recordo:
Ingredientes:
- Figos secos brancos ou pretos
- Miolos de amêndoas
- Açúcar
- Canela
- Erva-doce
- Lavam-se os figos, sem os deixar encharcar, com água limpa e algumas gotas de azeite
- Enxugam-se os figos e põem-se a secar para eliminar a água da lavagem
- Prepara-se o recheio misturando açúcar, com uma pequena quantidade de canela e erva-doce
- Faz-se um pequeno corte no figo, para introduzir o recheio e termina-se enchendo com dois ou três miolos de amêndoa, conforme o tamanho do figo e dos miolos
- Põe-se no forno quente para torrar, tomando atenção para não torrar demasiado
- Finalmente retiram-se do forno, deixam-se arrefecer e podemos deliciar-nos comendo-os
Quanto aos "moles" a receita é mais simples:
Ingredientes:
- Figos secos brancos ou pretos
- Folhas aromáticas de Funcho, Louro, etc.
- Lavam-se os figos sem os deixar encharcar, com água limpa e algumas gotas de azeite
- Enxugam-se os figos e põem-se a secar para eliminar a água da lavagem
- Colocam-se numa caixa de madeira, em camadas bem acalcados (apertados) entremeados com as folhas aromáticas
- Tapam-se bem, fecha-se a caixa e aguardam-se algumas semanas até o cheiro das aromáticas estar perfeitamente introduzido nos figos
- Finalmente retiram-se da caixa apenas a quantidade que se pretende consumir no momento
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