sábado, 15 de outubro de 2016

HOMEM ESTÁTUA

Começo a escrever estas linhas muito antes de as colocar aqui. Na verdade este texto começou a desenhar-se na minha cabeça enquanto passeava pela "Feira de Santa Iria", em Faro.

Admirador confesso de artistas de rua, sejam eles de que natureza for, parei por momentos junto de um "homem estátua" que em plena feira fazia o seu trabalho.

Empoleirado num pequeno pedestal, demarcava o seu espaço de representação cobrindo o chão com um pano também branco, à sua frente uma pomba branca numa gaiola e a caixa onde já se podiam ver algumas (poucas) moedas.

A "estátua", figura branca, alada, imóvel, de braços flectidos, colocava as mãos brancas duma forma angelical, numa representação quase conseguida de um "anjo".

Antes de retirar-me tentei dar a minha contribuição monetária mas não tinha moedas.

Prometi a mim mesmo que logo que trocasse algum dinheiro e tivesse moedas voltaria ao local para deixar a minha contribuição e foi o que fiz.

Quando voltei não vi a "estátua" no seu lugar e pensei que já se tivesse ido embora, mas não, o homem recolhido alguns passos atrás, comia uma merenda que alguém lhe dera.

Falámos um pouco e fiquei a saber que um dos objectivos que o trouxe até à feira foi o de angariar dinheiro para uma operação e implante que precisa fazer, porque sofre duma doença denominada de "espinha bifida" o que lhe causa insensibilidade na bexiga e falta de controle urinário obrigando-o ao uso constante de fraldas.

A operação que pretende fazer consiste em colocar um pequeno aparelho na coluna para estimular o sistema nervoso e lhe dar o controle urinário, tão necessário.

Segundo afirmou, o serviço nacional de saúde não comparticipa nestas operações e ele que não tem recursos próprios, está a tentar juntar dinheiro, para a operação.

Após breves minutos de conversa despedi-me.

O homem voltou à figura de estátua e eu de perto, observava as inúmeras pessoas que indiferentes passavam e nem reparavam naquela figura.

A história continuou na minha cabeça e não descansei sem a partilhar com os meus amigos, numa clara tentativa de os convencer a fazer uma visita ao homem estátua.

Para aqueles que o pretendam fazer, o homem deverá estar muito próximo do secretariado da feira.

Como podem ver será fácil encontrá-lo.

Boa feira para todos!

domingo, 9 de outubro de 2016

EMBELGA


Esta palavra veio no meio de um trocadilho que em geito de brincadeira, dei a um amigo, que me falava de "mentiras", ao que eu prontamente retorqui:- "Ás tiras e ás embelgas!", numa tentativa de tentar amenizar um pouco o quadro dramático que o meu amigo tentava criar com a sua argumentação

Rimos, continuámos a conversar mas passado pouco tempo despedimo-nos indo cada um à sua vida.

Pelo meu lado fiquei a pensar no trocadilho que havia dito ao meu amigo. Aquilo era uma frase feita que me surgiu a propósito, conhecia o "termo" mas não me recordava exactamente o que significava.

Rebuscando nos recantos da memória deparava-me sempre com a associação das duas palavras, relacionando-as nestes termos com bocados de terreno e a mais não chegava.

Hoje de manhã, enquanto deambulava pelo mercado mensal de Estoi, ia encontrando amigos e estabelecendo pequenos diálogos sempre habituais nestas ocasiões.

Um desses amigos foi precisamente o José Faustino a quem perguntei:- Eh pá, sabes o que é uma "embelga"?

-Então tu não sabes? pergunta ele com ar sorridente. Percebi que tinha a resposta e ainda lhe disse, eh pá, eu sei que tem a ver com a terra, mas não me recordo do resto.

Ao que ele acrescenta esclarecendo-me:
 - Uma "embelga" é uma tira de terreno com mais ou menos cinco passos (cinco metros) de largura que se semeia à "mão cheia" atirando as sementes para a frente para cobrir o chão numa forma homogénea, percorre-se o terreno em linha recta de uma ponta à outra, regressando-se depois pelo outro estremo da tira efectuando a mesma tarefa.

Essa tira de terreno que uma pessoa consegue semear com os dois lanços de ida e volta, chama-se uma "embelga".
Assim por exemplo, para semear-mos uma "courela" (16mx100m) serão precisas três embelgas.

Na Conceição de Faro, às embelgas semeavam-se cereais como, trigo, cevada, centeio.

E pronto, fiquei esclarecido.

E tal como diz o velho ditado "quem sabe, sabe, quem não sabe, bate palmas!" eu bato as palmas ao meu amigo Faustino!

Obrigado amigo!

Obrigado a todos os que tiveram a paciência de ler este pequeno texto.
 Um bom domingo para todos!