quinta-feira, 27 de junho de 2013

O CU DO BURRO


No tempo em que a maioria dos trabalhos rurais se faziam á custa destes dóceis mas valentes animais, contava-se na Conceição de Faro que certo dia, um homem que seguia atrás do seu burro, ia retirando de uma das suas algibeiras, os figos torrados que lhe serviam de refeição matinal.

Quando por vezes encontrava algum figo, um pouco mais queimado da torra, atirava-o á traseira do burro naturalmente que alguns acertavam no cu do burro outros não.

 O homem tinha esta atitude porque pensava que trazia consigo figos que chegavam e sobravam para as suas necessidades do momento.

Mas aconteceu que no final do dia, ao regressar pelo mesmo caminho, cheio de fome e já sem figos na algibeira, ia apanhando do chão e comendo, aqueles que de manhã havia atirado ao traseiro do burro.

Naquela altura era-lhe impossível saber quais os figos que tinham ou não acertado no animal, por isso, limitava-se a apanhá-los do chão, passando-os pelo seu próprio vestuário para lhes retirar alguma poeira, comia-os. Sabiam-lhe bem!

Para acalmar alguma repulsa pelo facto de os comer depois de os ter atirado ao animal, pensava para si: "-Estes não passaram pelo cu do burro!"

Também nós agora estamos a usar algumas coisas que na fartura de um passado recente atirámos para o esquecimento mas que o tempo e as actuais necessidades nos obrigam a socorrer do que dantes desprezámos!

terça-feira, 25 de junho de 2013

VIVAM OS SANTOS POPULARES


Eu tenho lá tempo para pensar!
com tanta animação;
foguetes a estralejar
sardinha a pingar no pão,
salada de tomates e pimentos,
cerveja e vinho à toa,
até esquecer os lamentos!
À toa, é como quem diz,
No Porto, em Braga ,em Lisboa
e no resto do País,
que mais parecia um velório.

Quanto mais não vale a festa,
as marchas e o foguetório,
fazendo esquecer do que resta,
dos coelhos, dos gaspares
e da crise...se é que a há?

Mas, só três Santos Populares
é pouco...assim não dá;
pois a festa assim só dura
oito ou nove dias no ano!
E se pedíssemos ao Vaticano
mais quatro Santos por mês,
Populares e bem dispostos?
Assim esquecíamos de vez
a crise, as taxas e os impostos!

(José Elias Moreno)

segunda-feira, 10 de junho de 2013

MARRALHEIRO



Está a chegar o verão, temperaturas amenas e é tempo de preparar os recintos para as festas ao ar livre.

Vêem aí as Festas dos Santos Populares e logo a seguir as festas de verão e os festivais de folclore.

Na aldeia de Conceição de Faro, a Junta de Freguesia, já tem programada a sua "Sardinhada" para a noite do próximo Sábado dia 22 de Junho que como habitualmente terá lugar no adro da igreja, com baile e participação da "Marcha de Bordeira".

Há alguns anos atrás era o Grupo Cultural e Desportivo da Casa do Povo que tomava a iniciativa e organizava as Festas de Verão, na nossa aldeia.

Todo o grupo se mobilizava dando o melhor de cada um dos seus elementos para que tudo corresse bem e as festas fossem um sucesso.

Todos ou quase todos, porque havia um que se fazia "marralheiro" e ficava por ali a observar o trabalho dos outros, sem nada fazer.

O "marralheiro" nem se dava ao trabalho de fingir que trabalhava e embora estivesse sempre presente, nada fazia, para além de nos fazer companhia e dizer uma ou outra "graça".

Foram mais de vinte anos que por ali andámos e sempre havia um ou mais marralheiros no grupo, repetindo-se a cena.

Há dias, encontrei por acaso, um desses tais marralheiros que há alguns anos não via. A conversa resvalou para as antigas actividades, do Grupo Cultural e Desportivo da Casa do Povo, recordando com alguma saudade aquela época das nossas vidas.

-Bons tempos, afirmava ele.
-É verdade mas já passaram, concordava eu.
-Que grandes festas que nós fazíamos naquele tempo, dizia ele.
-Nós?! ... Áh é verdade, tu também lá andavas, confirmei eu.
-Claro, então? ... fiz parte do grupo, orgulhava-se ele.

Conversamos sobre estas e outras banalidades e acabámos por nos despedir.
-Até á próxima amigo!
-Até á próxima e aparece!

Despedi-mo-nos e fiquei a pensar no "marralheiro". Afinal a sua participação foi importante para ele e quiçá para nós, porque como diz o ditado: -Se não empatares, já ajudas.

E ele, fazendo-se marralheiro manteve-se quieto e não empatou!