domingo, 21 de outubro de 2012

AGUIDAS


"Que os pássaros adoram comer..."


Choveu e após parar a chuva, o sol, trouxe milhares de insectos para o ar,  entre os quais as aguidas (a palavra lê-se assim: - a-gu-i-das), que com este tempo tiveram a situação ideal para enxamear.

Para quem não conhece estes insectos, eles são de cor negra e asas brilhantes, prateadas, com cerca de 10 a 12 mm, de comprimento.

A formiga que lhe dá origem é também negra, de tamanho 3 a 5 mm, aguerrida e trabalha incansavelmente podendo-se observar grandes carreiros a transportar sementes para o seu cabeceiro.

Criam-se em terrenos de sequeiro ou na beira dos caminhos. Podem-se apanhar a partir do inicio de Setembro, pela frescura da manhã, altura em que estão mais á superfície e uma ou duas cavadelas no cabeceiro, serão suficientes para as pôr a descoberto.
Com o calor do dia refugiam-se para o interior da terra, sendo necessário escavar a uma profundidade de entre meio a um metro.

Caso não sejam apanhadas antes, o enxame dá-se após a primeiras chuvas de outono, abandonando o cabeceiro, vagueam pelo ar, até perder as asas e acabar por morrer no solo.


Em tempos, na Conceição de Faro,  existia uma grande tradição de apanhar as aguidas para armar aos pássaros.

A partir da segunda semana de Setembro começam a chegar, os primeiros pássaros de arribação:
-Pardelas, felosas, taralhões, rabos-ruivos, barbara-ferreiras que apenas ficam 2 a 3 semanas, voltando a partir.

No inicio de Outubro chegam os cartaxos e as inteiriças que também permanecem igual periodo de tempo .

Por fim, chegam piscos, arveloas (branca e amarela), boieiros (ou agachadiços) que permanecem até ao inicio do próximo ano.

Alguns alimentam-se de fruta e insectos, outros apenas de insectos, mas todos têm uma adoração pelas aguidas que não exitam em comer.

Sabendo disso, apanhávamos as aguidas que punhamos nas ratoeiras, atraindo os pássaros para os capturar.

As ratoeiras haviam de vários feitios e tamanhos, mas as mais usadas para os pássaros eram feitas em arame, com mais ou menos 15 cm de comprimento, constituídas por uma peça base em semi-circulo, com uma rabeira, duas molas de arame de aço.
Para completar o conjunto, outra peça em semi-circulo e dois pingalhetes, um grande e outro mais pequeno, onde se colocava a aguida.

A ratoeira armava-se, abrindo a segunda peça, no sentido da rabeira e encaixando os pingalhetes um no outro, para trancar.
O pássaro ao tentar comer a aguida desarmava os pingalhetes e o conjunto fechava-se  sobre o seu pescoço, por acção das molas.

Para os primeiros pássaros, as ratoeiras eram colocadas nas figueiras, aroeiras, treviscos ou no chão.

Para todos os outros eram colocadas no chão, cobrindo-se com terra apenas ficava visivil o pingalhete com a aguida viva.

Na Conceição de Faro actualmente porque deixaram de existir as aroeiras, os treviscos e as figueiras de sequeiro, deixou também de haver a alimentação adequada para estas aves pelo que são raros os pássaros de arribação.

Subsistem ainda os piscos, embora em muito menor quantidade.

Sem comentários:

Enviar um comentário

Olá amigos
Usem a caixa abaixo para escrever a Vossa mensagem de forma correta e sucinta, tratando apenas um assunto em cada comentário (mensagem).
Obrigado
JJ Rodrigues