sexta-feira, 7 de outubro de 2011

DEVERES E HAVERES

"... quintas de passar cheques!"


1º Poema


Seis de Outubro. Cedo, ao acordar,
com o Discurso ainda presente;
pego na vara ...vou varejar,
como mandou o senhor Presidente.


Estendo o toldo ao comprido no chão,
olho para cima; amêndoas poucas,
quem me teria pago o sermão...
...para ter tido ideias tão loucas.


Dou varadas atrás de varadas,
nos ramos secos e nas pernadas.
Escorre-me o suor pela cara;
maldita hora em que peguei na vara.


Uma quinta p'ra ajudar à reforma,
porque o campo é bom p'ra saúde;
seja como for, mas de qualquer forma,
era bom ter alguém que me ajude.


Ao fim do dia estou estourado.
Sento-me de papel e lápis na mão;
vamos ás contas e o resultado:
uma tremenda desilusão.


Paguei a lavoura, rega, pesticidas,
mais a poda, adubos e herbicidas,
gasóleo p'ró tractor, impostos e salários,
e não fiz a conta aos meus honorários.


Devia ter produzido ao quadrado,
isto dá-me cabo da cachimónia.
Ao preço a que está o mercado,
mais vale importar da Califórnia.


Senhor Presidente, eu não consigo.
Permita que o diga sem salamaleques:
passa-se comigo, o que se passa consigo,
temos duas quintas de passar cheques.


Claro que concordo com o senhor;
devemos trabalhar... até rebentar!
mas com produções deste teor,
a crise tão cedo não vai acabar.

José Elias Moreno
Faro:6.Out.2011

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