"Hoje, amanhã e depois, é tempo de se fazerem os folares."
Este bolo tradicional da Páscoa há alguns anos atrás era comum fazer-se em quase todas as casas da nossa freguesia de Conceição de Faro.
Na sua preparação começava-se de véspera por fazer o fermento, amassando um pouco de farinha com uma pequena porção de fermento inglês.
No dia seguinte no mesmo alguidar de barro onde se amassava o pão, amassava-se a farinha juntando aos poucos um chá de casca de limão e erva doce. Também se juntava o fermento feito na véspera.
Aprontava-se a massa, juntando aos poucos o açúcar, com algum cuidado para não exagerar porque se ficasse muito doce dificilmente levedava.
Depois de amassada, era tapada com diversos panos e todo o alguidar era envolvido com cobertores a fim de manter o calor facilitando a levedura.
Após algumas horas, por vezes mais de 8 horas, a massa estava leveda e pronta para tender os folares.
Entretanto as vasilhas para enformar os folares, ou seja, quase todos os tachos e panelas da casa, estavam devidamente lavados e untados com banha ou manteiga.
Utilizando o rolo e a tábua de tender, estendia-se a massa, em finas folhas, untando-as com manteiga ou banha, polvilhada com açúcar e canela, juntava-se os ovos previamente lavados, enrolava-se as folhas e fazia-se o bolo de acordo com o tamanho pretendido, ou seja, o da vasilha que o ia receber.
Os bolos feitos e colocados nas suas vasilhas eram novamente tapados, para que não esfriassem e pudessem
"fintar", isto é, atingir o ponto ideal de levedura.
Após algumas horas de espera e por vezes de desespero, os bolos ficavam prontos para entrar no forno que há muito ardia a lenha para aquecer nas condições ideais para cozer.
Depois de colocar os folares no forno e enquanto durava a cozedura, era preciso continuar a vigiar para ver se não havia demasiado calor que ocasionaria queima-los por fora deixando-os crus por dentro.
Utilizava-se um pequeno espeto de pau que introduzido e retirado do bolo verifica se a massa agarrava, o quereria dizer que ainda estava crua por dentro.
Finalmente cozidos, eram retirados do forno, desenformados e colocados em folhas de papel vegetal.
Todo o trabalho descrito decorria ao longo de quase 24 horas, ás vezes se algo corria mal, até mais.
Finalmente ofereciam-se e trocavam-se folares entre familiares, vizinhos e amigos.
Hoje é diferente porque já são poucas as casas onde se fazem os folares, preferindo a maior parte das famílias adquiri-los no comércio.
Deixou de ser tradicional da Páscoa e passou a comercializar-se durante todo o ano, tornando-se vulgar e corriqueiro.