sábado, 3 de julho de 2010

MANUEL DO ROSARIO

"Abel vai depressa..."

Hoje de manhã encontrei na aldeia, o meu amigo Manuel do Rosário, conhecido como o "Manel da Filipa".

Manelinho então como é que vai isso, a Chaveca ainda está no mesmo lugar? pergunto-lhe.

Vamos indo, responde ele. E logo se apressa a dizer-me uma das suas repentinas quadras.

Mas antes explica-me a razão do verso. "Há bocado ia a atravessar a rua e alguém grita: -"Vai depressa Abel..." e eu disse-lhe...

Abel vai depressa
Dizem para te apressar
Mas tu não vás nessa,
Vai, mas vai devagar!

Há muitos anos que conheço o Manuel do Rosário, poeta popular, repentista improvisador.

Jogámos á bola, andámos juntos na charola, durante muito tempo fez parte da cantata do rancho folclórico, onde tocava os ferrinhos. O Manuel também participou no Encontro de Poetas Populares que há alguns anos, no âmbito do programa das Festas de Nossa Senhora da Conceição, se organizou na Conceição de Faro.

Sempre ouvi encantado as suas quadras que quase sempre se referem a situações reais, como aquela que dedicou á charola:

Esta Charola tem tudo
Pois até tem um coxo
Tem um careca e um cabeludo
Tem um cornudo e um mocho!

Esta, ao contrário é pura brincadeira:

Tenho azia nas orelhas
Dor de dentes no cachaço
Amargam-me as sobrancelhas
Não vejo nada deste braço!

O Manuel é imbatível nas quadras ao desafio, tem sempre pronta a resposta para tudo! Voz calma, tom não muito alto mas ritmado. No final uma pequena gargalhada termina quase todas as suas quadras.

Certa vez também eu lhe dediquei uma das minhas cestilhas que era mais ou menos assim:

Manuel que és jardineiro
Eu ouço um dia inteiro
Tuas palavras a rimar
Tu versas de improviso
E no momento preciso
Dizes coisas de encantar!

Entretanto o Manuel esboçando a sua caracteristica gargalhada, lá foi á sua vida. Eu fico a pensar no Abel.

O Abel é um polivalente que está ao serviço da Junta de Freguesia. Esforçado, trabalhador, diligente, todos gostam dele.

Na escola primária costumávamos convencê-lo a fazer uma corrida com a promessa de lhe dar um berlinde ou um pião. O Abel abalava sozinho e ficávamos espantados com a sua enorme capacidade de resistência percorrendo uma grande distância aparentemente sem cansaço.

Agora, a idade não perdoa e o Abel sofre de um problema no coração, mas continua activo e disponível como sempre.

Pelo meu lado apresso-me para ir para o trabalho, está quase na hora e ainda estou á porta do Zé Carlos.

Então até logo, despeço-me.

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JJ Rodrigues