quinta-feira, 8 de julho de 2010

ADIAFA

"O que vem á rede é peixe..."

Adiafa era a festa oferecida pelo patrão ou dono da obra, para comemorar o final com sucesso, duma tarefa ou trabalho.

Consistia num almoço, lanche ou jantar que por vezes terminava em bailarico, ao som do acordeão ou da gaita de beiços. Também se cantava um fadinho que quase sempre era uma alegre desgarrada, com os mais expeditos a deixarem enrascados aqueles que menos preparados se atreviam a enfrentá-los.

Eram convidados para a Adiafa, todos os que trabalharam para a conclusão da obra ou tarefa.

Habitualmente faziam-se Adiafas na Conceição de Faro, após terminar:

-A apanha da amêndoa e da alfarroba;
-A Escarapela do milho:
-A abertura dum poço, nora ou cisterna;
-O enchimento da placa de cobertura de uma casa;
-A conclusão da obra da própria casa;
-As Festas da Aldeia ;
-A época de actuação da Charola.

A Adiafa era uma forma de compensar todos os que duma forma abnegada, ajudaram trabalhando por vezes, até além do normal.

Hoje, o termo quase caiu em desuso, no entanto nalguns casos, o costume mantém-se embora nomeado simplesmente de almoço ou jantar.

Cabe aqui uma pequena história que ocorreu na nossa aldeia, há alguns anos, numa adiafa.

Nos anos 60 vivia ali para os lados da Chaveca, um homem a quem chamavam "O Lisboa". Se bem me lembro era o companheiro da "ti' Estrudes Cardosa".

O homem, excelente trabalhador embora sem profissão definida era chamado para os mais diversos trabalhos. A pedido dos interessados extraia os calhaus da ribeira que vendia para substituir a pedra, nas massas de betão para as placas das casas, para os anéis das noras ou até para pavimentos.

Certa vez, "O Lisboa" foi convidado para a adiafa de uma obra. O petisco era uma "panelada" de grão, cozido com arroz e carne de porco.

Cerca de uma dezena de convidados, todos sentados, a panela no centro da mesa, cada um ia servindo o seu prato.

Como era uso e costume primeiro comia-se o grão com arroz e no final repartia-se a carne.

Por ser de fora e não estar habituado a estes costumes O Lisboa que foi dos primeiros a servir-se, meteu a colher ao tacho e retirou duma assentada quase toda a carne.

Surpreendido por haver tirado carne, ninguém ainda o tinha feito, declarou sorridente "o que vem á rede é peixe !!!".

O dono da casa que participava da refeição, limitou-se a sorrir e os outros convidados tiveram de se contentar em comer o grão e o arroz, com o cheirinho da carne, no prato do Lisboa.

Valeu-lhes o garrafão cujo vinho ajudou a forrar o estômago!

Escusado será dizer que devido á fama, O Lisboa não voltou a ser convidado para estas adiafas.

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JJ Rodrigues