quinta-feira, 15 de abril de 2010

A RÉGUA

"... que a mão da velha mestra usa com destreza."

Hoje, encontrei o “Chico Valagão” companheiro da escola primária. Conversámos um pouco e o Chico declarou com ar satisfeito que já estava reformado. Ganho agora mais do que ganhava quando trabalhava, justificou!
Ainda bem amigo, ainda bem, disse-lhe eu.

Separámo-nos seguindo cada um o seu caminho e de repente nem sei bem porquê, apeteceu-me voltar á escola primária da nossa aldeia.

Procurei, nos mais de cinquenta anos de memória, imaginar a velha sala de aulas. Antes passei pela pequena sala de entrada, subindo os dois ou três degraus da porta de entrada.

Entrei, percorri os poucos metros que me separam da porta da sala de aulas, até á carteira onde estive os quatro anos que cá andei.

A minha carteira está quase no fim da fila que fica em frente á porta, no sentido perpendicular a esta.

Ao lado do quadro preto, no canto oposto, imagino sentada a professora D. Maria.

A sala está cheia de rapazes dos sete aos catorze anos de idade que a “velha mestra” com a sua experiência, talha para a vida futura.

Na sua secretária, sempre visível, a temível e por todos odiada régua!

Vinte centímetros de maciça madeira que a gorda mão da mestra, usa com destreza.
Segurando-nos a mão pelas pontas dos dedos, aplica o correctivo com energia, indiferente aos gritos, gemidos, choros e protestos com que sempre recebemos tal acção.

Uma conta mal feita, uns erros a mais no ditado mal escrito ou qualquer rebeldia e vem o castigo. Reguadas! Uma, duas, três, seis, dez, uma dúzia ou até duas dúzias, segundo o código pessoal de castigos, da velha mestra.

Salvo um ou outro puxão de orelhas, é a régua que serve, para nos avivar a memória, acertar nas contas, nos ditados e meter na disciplinada ordem.

Um dia, a régua desapareceu!

A velha professora bem procurou, perguntou mas ninguém sabia de nada! A régua tinha desaparecido para alívio de todos!

Foram quase duas semanas de descanso mas para mal dos nossos pecados a professora apareceu com uma régua ainda maior!

Certa vez quando na hora do almoço brincávamos despreocupados, a professora começa a chamar-nos á medida que vai corrigindo os “ditados” que havíamos feito de manhã.

Vai aplicando os castigos conforme os erros detectados. Ao João coube-lhe vinte e quatro reguadas, tantos quantos os erros no seu ditado. A professora distribuía equitativamente uma dúzia por cada mão. As da mão direita, mais calejada, o João ainda aguentou estoicamente, mas quando chegaram as da mão esquerda não aguentou mais e gritou:
-Também o Pisco roubou a régua!!!...
A professora parou perguntando: - O quê?
O Pisco roubou a régua, repetiu o João.

A professora deixa o João poupando-o ao resto do castigo e chama de imediato o Pisco que a medo confirma o que o João havia denunciado e apanha uma valente “sova” da mestra que o deixa chorando o resto da tarde!

Na verdade a régua havia sido sorrateiramente furtada e levada na sacola, pelo Pisco com o conhecimento de quase todos que já longe da escola se juntaram para dar fim á dita, queimando-a dentro de uma cova que taparam para esconder as cinzas.

Termino esta pequena viagem ao memorial escolar infantil com alguns nomes que aqui coloco tal como me vão ocorrendo:

-Américo, Reinaldo, Pires, Brazão, Charneca, Zeca Barão, Zé da Velha, Arnaldo, Florival, Zezinho, Pancinha, Vitorino Pião, Caldeirinho, Chico Valagão, Pisco, João Batista, Flor, Alfredo, Idalecio Brazuna, Perna, Arroz Queimado, Cara de Macho, Abel Romeira, Ilidio, Filhó, Zé Antonio, Moreno, Ribeiros, Libório, Vitorino ... ... ....

Lista imcompleta por incapacidade da memória do autor, por isso, façam favor de ajudar!

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JJ Rodrigues