quarta-feira, 16 de setembro de 2009

ESCANCHADO

"... Os burros desatavam num galope desenfreado ..."

Escanchado na albarda da burra, sobre a qual já se encontravam as cangalhas com dois cântaros de barro, o balde e o funil de lata, a minha mãe mandava-me á água, com apenas 7 anos de idade.

Aproveitava a ocasião em que os meus dois vizinhos um pouco mais velhos, também iam nos seus burros buscar água, á quinta do senhor Chico Norte.


Entre a casa onde morava no sitio dos Caliços e a "Quinta Grande", onde iamos encher a água, distavam mais ou menos 2 kilometros que eram percorridos por um caminho de pedras, buracos e pó, apenas transitável por animais ou pessoas a pé.


A minha mãe desconhecia que mal se metiam ao caminho, os meus dois companheiros e vizinhos, incitavam os respectivos burros que desatavam num galope desenfreado e a minha burra respondia com igual correria.
Assustado, eu apertava a albarda entre as pernas, segurava a arreata com as duas mãos e aguentava-me como podia, em cima da burra. Pelo meio escutava as gargalhadas dos meus companheiros que estavam sempre há espera que eu caísse da burra o que nunca veio a acontecer.

Porque não tinha altura nem força, para erguer o balde cheio e despejar no funil colocado na boca do cântaro, eram os meus amigos que faziam esse serviço já encomendado pela minha mãe.

Regressávamos mais calmos porque os animais agora com o peso dos cântaros cheios de água, já não conseguiam correr.

Passados dois ou três dias tudo se repetia, era preciso voltar a ir buscar água.

Quando faltavam poucos dias para completar os 8 anos de idade, mudei de morada, vim para o sitio do Besouro e tinha a água á porta de casa.
A burra que muito trabalhou para transportar os materiais para a construção da nova casa, foi vendida, por já não ser necessária.

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JJ Rodrigues