domingo, 26 de julho de 2009

BURROS

"Albarda, cilha, atafais, cabresto, arreata, gorpelha, cangalhas, molim ou malhim, canga ..."


Os Burros, até há pouco mais de 30 anos, eram animais importantes na vida da Conceição de Faro.

A maior parte das famílias pobres tinham obrigatoriamente o seu burro. O sacrificio financeiro que faziam, em 1950 um burro jovem custava cerca de 500 mil réis, era sobejamente compensado pelo trabalho que o animal fazia.

Animais de carga, fortes, dóceis, fáceis de lidar eram de grande préstimo nas tarefas diárias, transportando pessoas, água, alimentos e tudo o que fosse necessário.

Tal como os burros, também os seus apetrechos por falta de uso, foram caindo no esquecimento.

Albarda, cilha, atafais, cabresto, arreata, gorpelha, cangalhas, molim ou malhim, canga, desapareceram por completo do nosso vocabulário diário, sendo agora praticamente desconhecidos.

A “albarda”, o mesmo que sela mas maior, era presa pela "cilha", uma cinta de cabedal que passava sob a barriga do burro.

Os "atafais", correias de cabedal, colocados no traseiro do animal, prendiam a albarda para que não escorregasse para o pescoço.

As “cangalhas”, um apetrecho em madeira onde se transportavam cântaros, sacos com sementes, farinha, lenha, eram colocadas sobre a albarda ficando uma parte de cada lado.

A “gorpelha”, um grande saco feito de palma, era colocada sobre a albarda, formando uma bolsa de cada lado. Aqui também se transportava de tudo um pouco.


O “Cabresto”, ao qual se prendia as “arreatas” era colocado na cabeça do burro e servia para manobrar o animal.

Os burros também se atrelavam a pequenos carros de madeira, a “arados”, ao "trilho" que na eira ajudava a separar o grão dos cereais da casca e aos engenhos das “noras”, para tirar a água. Nesse caso a albarda era substituída pelo “molim ou malhim” e “canga” que lhe eram colocados no pescoço ao qual se prendiam os “varais” do carro, do arado ou do engenho. Os trilhos eram presos por cordas ou correntes de ferro ao malhim.

São várias as histórias populares, associadas aos burros que se contam. Desde os lobisomens, até outras menos próprias para contar aqui.

Esta história ouvi-a em miúdo afirmando quem a contou que era verdadeira. Não vou citar nomes de pessoas, nem de lugares, mas podia perfeitamente ter ocorrido na nossa aldeia, por onde uma vez por mês o Oleiro passava, vendendo cantaros, quartas, enfuzas, pucaros, pratos, panelas e outros utensilios de barro.

Certo dia, vindo o "Oleiro" com os seus dois burros carregados de loiça de barro para vender chega junto a uma venda-taberna. Á porta como sempre alguns clientes esperam que chegue alguém para pagar mais um copo, mas o Oleiro homem de trabalho não gosta de copos. Então um dos que estavam á porta da taberna, já sabendo que dali não ia levar nada, pensou em pregar-lhe uma "partida".
Saiu ao encontro do Oleiro perguntando-lhe: -Oh amigo posso dar um segredo a um dos seus burros?
O Oleiro despreocupado respondeu: -Pode...
O outro foi junto da cabeça do burro fingindo dizer-lhe algo, atira a ponta do cigarro ainda incandescente, para dentro da orelha do animal que imediatamente começou aos pulos e coiços, partindo a loiça toda!
O Oleiro aflito pergunta: - Oh homem, o que é que você disse ao diabo do burro?!
O outro grita: -Disse-lhe que o pai tinha morrido!...
O Oleiro novamente aflito:- Oh homem, esteja calado, esteja calado! porque o outro é irmão!

Sem comentários: