sexta-feira, 31 de julho de 2009

ALCUNHAS

"Alguns alcunhados aceitavam as suas alcunhas ..."

Caídas um pouco em desuso, também na Conceição de Faro, existiam e nalguns casos ainda subsistem as famosas alcunhas.

As pessoas eram e ainda são conhecidas, pura e simplesmente pelas alcunhas, quando se procura pelos seus verdadeiros nomes ninguém sabe quem são.

Simples, ingénuas, curiosas, criativas, brincalhonas, prejorativas, insinuosas e tudo o mais o que imaginação popular possa criar.

Surgiam, motivadas por algum episódio da vida pessoal, familiar ou por qualquer outro motivo, passando dentro da família, de pai para filho, para neto e por aí fora...

Cito as mais conhecidas, tal como as ouvi pronunciar, não sabendo se é a forma correcta de as escrever.

Barrigas, Quelhambras, Agarra-Canitas, Cara-de-Macho, Pau-dágua, Zé-Nonha, Arroz-Queimado, Chelila, Lagarto, Dr. Burro, Curriolo, Pião, Zé-da-Velha, Sáreto, Pála-de-Mota, Estaca, Zé-Branco, Canzil, Boinho, Bobó, Gataizo, Pégalinhas, Manzurro, Cachaça, Marcantes, Catrapelho, Pende-na-Pende, Chaloua, etc.

Também há as alcunhas derivadas do sitio ou local onde a pessoa reside, tais como, Manuel-Alcantarilha, Chico-do-Besouro ou derivadas de um familiar mais popular e conhecido, como, Poeira, Manuel-da-Zézinha, Manuel-da-Filipa, Zézinho-Barriga. Outras como, António-Albardeiro, Chico-Carcereiro, Padeirinho, relacionam -se com as profissões outras ainda com qualquer defeito físico, como, Marreco, coxo ou ceguinho.

Alguns alcunhados aceitam as suas alcunhas como se do seu próprio nome se trate.Outros não gostam, irritando-se até quando ouvem ser chamados pelas alcunhas.

domingo, 26 de julho de 2009

BURROS

"Albarda, cilha, atafais, cabresto, arreata, gorpelha, cangalhas, molim ou malhim, canga ..."


Os Burros, até há pouco mais de 30 anos, eram animais importantes na vida da Conceição de Faro.

A maior parte das famílias pobres tinham obrigatoriamente o seu burro. O sacrificio financeiro que faziam, em 1950 um burro jovem custava cerca de 500 mil réis, era sobejamente compensado pelo trabalho que o animal fazia.

Animais de carga, fortes, dóceis, fáceis de lidar eram de grande préstimo nas tarefas diárias, transportando pessoas, água, alimentos e tudo o que fosse necessário.

Tal como os burros, também os seus apetrechos por falta de uso, foram caindo no esquecimento.

Albarda, cilha, atafais, cabresto, arreata, gorpelha, cangalhas, molim ou malhim, canga, desapareceram por completo do nosso vocabulário diário, sendo agora praticamente desconhecidos.

A “albarda”, o mesmo que sela mas maior, era presa pela "cilha", uma cinta de cabedal que passava sob a barriga do burro.

Os "atafais", correias de cabedal, colocados no traseiro do animal, prendiam a albarda para que não escorregasse para o pescoço.

As “cangalhas”, um apetrecho em madeira onde se transportavam cântaros, sacos com sementes, farinha, lenha, eram colocadas sobre a albarda ficando uma parte de cada lado.

A “gorpelha”, um grande saco feito de palma, era colocada sobre a albarda, formando uma bolsa de cada lado. Aqui também se transportava de tudo um pouco.


O “Cabresto”, ao qual se prendia as “arreatas” era colocado na cabeça do burro e servia para manobrar o animal.

Os burros também se atrelavam a pequenos carros de madeira, a “arados”, ao "trilho" que na eira ajudava a separar o grão dos cereais da casca e aos engenhos das “noras”, para tirar a água. Nesse caso a albarda era substituída pelo “molim ou malhim” e “canga” que lhe eram colocados no pescoço ao qual se prendiam os “varais” do carro, do arado ou do engenho. Os trilhos eram presos por cordas ou correntes de ferro ao malhim.

São várias as histórias populares, associadas aos burros que se contam. Desde os lobisomens, até outras menos próprias para contar aqui.

Esta história ouvi-a em miúdo afirmando quem a contou que era verdadeira. Não vou citar nomes de pessoas, nem de lugares, mas podia perfeitamente ter ocorrido na nossa aldeia, por onde uma vez por mês o Oleiro passava, vendendo cantaros, quartas, enfuzas, pucaros, pratos, panelas e outros utensilios de barro.

Certo dia, vindo o "Oleiro" com os seus dois burros carregados de loiça de barro para vender chega junto a uma venda-taberna. Á porta como sempre alguns clientes esperam que chegue alguém para pagar mais um copo, mas o Oleiro homem de trabalho não gosta de copos. Então um dos que estavam á porta da taberna, já sabendo que dali não ia levar nada, pensou em pregar-lhe uma "partida".
Saiu ao encontro do Oleiro perguntando-lhe: -Oh amigo posso dar um segredo a um dos seus burros?
O Oleiro despreocupado respondeu: -Pode...
O outro foi junto da cabeça do burro fingindo dizer-lhe algo, atira a ponta do cigarro ainda incandescente, para dentro da orelha do animal que imediatamente começou aos pulos e coiços, partindo a loiça toda!
O Oleiro aflito pergunta: - Oh homem, o que é que você disse ao diabo do burro?!
O outro grita: -Disse-lhe que o pai tinha morrido!...
O Oleiro novamente aflito:- Oh homem, esteja calado, esteja calado! porque o outro é irmão!

sábado, 18 de julho de 2009

MIMI


"... de tanto acasalar começou a engordar e a barriguinha a crescer!..."
A minha cadela "mimi" viveu há pouco tempo uma história de amor. Resultado. Engravidou ou ficou "pejada", dando á luz seis bonitos cachorrinhos!

Vive num quintal, cercado de rede mas, um "macho" vizinho conseguiu abrir um buraco por baixo da rede, para acasalar com ela.
Descoberto o cão e o buraco, foi o cão "enxotado" e o buraco tapado.
Mas no dia seguinte lá estavam os dois outra vez.
Repito a cena, isto é, enxoto o cão, tapo o buraco, sem resultado porque o episódio repete-se até finalmente resolver vedar o quintal com duas fiadas de blocos de cimento.

Tarde de mais. Depois de tanto acasalar, a "mimi" começou a engordar e a barriguinha a crescer.

Até que um dia a mimi desapareceu. Procurei-a por todo o quintal. Finalmente descobri um enorme buraco que escavou no solo, onde deu á luz seis filhotes.

Retirei-os do buraco, para os colocar num local que me pareceu mais adequado para crescerem e agora passadas 6 semanas, já correm por todo o quintal.

Apresento-os aqui na esperança que algum amigo queira tomar conta de um deles que ofereço de bom grado.

A mãe é muito mimosa, obediente, acatando de imediato qualquer ordem que lhe dou. É caçadora perfeita, para além de uma boa guarda. Os filhotes certamente não serão muito diferentes.

Se porventura estiver interessado nalgum deles é só dizer.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

MANADIA

"... Juvenil grupo de maltezes ..."

Terminadas as aulas, a “malta” ficava um pouco "á manadia”, durante os três longos meses das férias de verão.

Muito novos, com os pais a trabalhar sem tem tempo para cuidar de nós, tínhamos os dias por nossa conta.

A “Escola” terminava na última semana de Junho, no mês de Julho havia exames, para aqueles que os tinham e só voltávamos ás aulas na primeira semana de Outubro.

Não era grande o juvenil grupo de "maltezes". Os nomes que recordo, para além do meu próprio, são o João Baptista, o Reinaldo, o José Silvério, os irmãos Perna, o Florival, o Ilídio, o Filhó, o Joaquim Manuel (mudo), o Abel, o José Mateus, o Marinho, o Idalécio e o João Pancinha.
Esta "malta" morava, em sítios como, Paço Branco, Meloal, Besouro e Jardina, todos pertencentes á Conceição de Faro.

Eram várias as “maltezarias” que fazíamos no verão.

Apanhar pássaros era uma delas, senão a principal, utilizando umas ratoeiras de arame e molas de aço enrolado, começávamos no inicio do verão por apanhar picanços que se perdiam por grilos e no final do verão, inicio do Outono eram os pássaros de arribação que se deixavam apanhar com “aguídas” (formigas de asas).

A pardela, o rabo-ruivo, o taralhão, o cartaxo, a felosa, etc..

Eram muitas as pequenas aves que arribavam, durante mais ou menos um mês (Setembro) mantinham-se por cá, fazendo as nossas delícias.

As fisgas sempre prontas no bolso dos calções, serviam também para com alguma sorte e pontaria, apanhar os pássaros.

Tomar banho nos “tanques” que serviam de apoio á rega das hortas, era outro dos passatempos.

Juntávamo-nos em grupo e pela força do calor ou seja na parte do dia mais quente lá estávamos dentro do tanque.
Por vezes éramos surpreendidos pelos donos dos tanques ou até pelos próprios pais que com a ameaça de uma “vara de marmeleiro” nos faziam abandonar o banho o mais rápido possível, por vezes até sem tempo para recuperar a roupa que havíamos despido. Saindo espaventados, nus, correndo pelas hortas. Escondíamo-nos. Só muito mais tarde íamos a medo buscar a roupa.

O roubo da fruta era outro passatempo preferido.

O figo, o albricoque, o pêssego, a ameixa, a pêra, a romã, a amora, eram de entre muitas, as que mais nos interessavam.
Conhecendo as hortas a palmo, sabíamos exactamente onde estava a melhor e mais apetitosa fruta.
Éramos os primeiros e mais assíduos clientes, o que nos valia por vezes umas boas corridas dos donos, com gritos de “grandes malandros” !

As melancias que pelo toque ainda não sabíamos avaliar se estavam ou não maduras era preciso “calar”, isto é, fazer um pequeno corte na casca para ver. Com esta acção, caso não estivesse madura, estragávamos a fruta. Prudentemente voltávamos o corte para o solo e a coisa só era descoberta quando a melancia era colhida.

O dono começava a apanhar as melancias e descobria as imprudentes “calas”que naturalmente estragavam as melancias.

Resultado. Queixa em casa e uma tareia dos pais.

Deste modo, o castigo vinha tarde mas não faltava!

O futebol fazia também parte das nossas férias, disputando renhidos jogos quer em plena estrada empoeirada ou em qualquer restolho disponível. Calçados de alpercatas ou sandálias, era na maioria das vezes descalços que jogávamos para não ter de ouvir ou até mesmo apanhar dos nossos pais por estragarmos o calçado!

E assim "á manadia" passavam as nossas longas férias de verão!