terça-feira, 2 de agosto de 2022

AS ALFARROBAS, A CEVADA MOLHADA E UMA DUZIA DE RÉGUADAS


Ontem, distraído observava um homem que agachado debaixo de uma alfarrobeira,  apanhava alfarrobas, o pensamento andou-me alguns (muitos) anos para trás.

Tentei recordar-me se aquela alfarrobeira atualmente de grande porte, já existia no tempo em que andava na escola que ficava mesmo ali em frente? 

Por mais que me esforçasse não me lembrava!... 

Aqueles terrenos para além da partilha com a escola, também o fazem com ribeira.

Apenas três ou quatro filas de arames zincados, amarrados aos postes de cimento, serviam de separação, sendo fácil passar de um lado para o outro.

Todos os recreios, o nosso e o das raparigas que ficava mesmo ali ao lado, eram limitados com a mesma vedação.

Não podendo estender-nos para o lado das raparigas que era motivo para castigo, muitas vezes usámos o terreno da senhora Lourencinha, como uma extensão natural do nosso local de recreio.

Um dia, quando a senhora Lourencinha tinha lá semeada cevada, a crescer já suficientemente alta que permitia esconder-nos facilmente jogávamos um animado jogo do "coito".

Enquanto um, voltado para a parede da escola, com a testa da cabeça encostada ao braço, contava rapidamente os outros procuravam esconder-se o melhor possível, sendo que alguns onde me incluí foram refugiar-se no meio da cevada, nem ligando para o facto de estar toda molhada.

Algum tempo depois o recreio acabou  e todos regressámos à sala, alguns como era o meu caso molhados até à cintura.

Passados poucos minutos, a senhora Lourencinha descobre que a cevada tinha ficado quebrada devido à nossa correria apressada pelo interior da seara e vai relatar o caso à professora.

Ao receber a queixa, a velha mestra agarrou na régua (um pedaço de madeira de pinho, devidamente aparelhada, com mais ou menos 20x5x2 centímetros) mandando que nos fossemos levantando um a um para verificar quem estava molhado, para receber o castigo.

A professora D. Maria tinha o hábito de tentar corrigir os nossos infantis defeitos com uma régua intimidatória que colocava à vista de todos, em cima da sua secretária.

Para aquela infantil falta a "velha" decidiu dar-nos uma dúzia de reguadas aplicadas com força e destreza nas nossas frágeis mãos que ficariam tão doídas que quase nem as sentíamos, tal era a dor provocada.

Tão cedo não esqueceríamos! 

Absorvido nestas recordações nem vi mesmo à minha frente, a saída do homem debaixo da alfarrobeira, só me dei conta quando ele já abandonava o local, quase silencioso, montado numa pequena scooter elétrica. 

Como não levava consigo os sacos de alfarrobas que tinha apanhado (eram pelo menos dois), presumi que os escondeu nas abas da arvore que roçavam o chão, o que a distancia a que me encontrava e os ramos da árvore, não me permitiam confirmar. 

Virá buscá-los mais tarde de certeza, não havia de ter tanto trabalho para abandonar as alfarrobas e ao preço a que elas estão!

Com isto tudo, o tempo passou, era quase hora do almoço, apressei-me a voltar à realidade atual e a casa para o almoço!

Para os amigos fica esta história que talvez alguns de vocês recordem!




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JJ Rodrigues