domingo, 17 de março de 2013

AS RIFAS

Até ao final dos anos sessenta, por altura da "Quaresma" vigorava a proibição de realizar bailes populares e por isso, era tempo de se fazerem as "Rifas".

Na Conceição de Faro, as rifas eram organizadas por moças, nas suas próprias casas, para as quais convidavam outras moças e principalmente homens. Naturalmente que para além do jogo em si, os homens eram atraídos pelas moças, para esta espécie de jogo convívio.

As pessoas reuniam-se á volta da mesa para jogar ás cartas, apostando rebuçados que eram vendidos pela dona da casa e organizadora da rifa.

Os rebuçados custavam "meio tostão" ou "um tostão" conforme a qualidade. Os homens compravam rebuçados, em maior ou menor quantidade, conforme as "intenções" que tinham em relação á organizadora da rifa, isto é, se pretendiam ou não agradá-la.

As rifas eram realizadas duas ou três vezes por semana normalmente ás Quintas-Feiras, Sábados e Domingos, decorrendo durante o período da "Quaresma", sendo que no sábado de Aleluia normalmente se fazia a festa de encerramento.

Pela sua simplicidade os jogos mais populares que se jogavam nas rifas, eram, a "rifa", o "sete e meia", o "montinho" e o "pilha".

  • Rifa, neste jogo as cartas têm o valor nominal sendo que as figuras (dama, valete e rei) são excluídas do baralho ou têm valor zero.
  1. Baralham-se as cartas
  2. Corta-se o baralho
  3. Dão-se três cartas a cada jogador
  4. A ultima carta de baixo do baralho é para a banca que imediatamente a mostra
  5. A banca vai pedindo a cada jogador que mostre a sua carta que será apenas a última de baixo ou seja a primeira que lhe foi distribuída. 
  6. A banca vai pagando ou recebendo a diferença de pontos, conforme a sua carta é mais fraca ou forte do que a do jogador em causa
  • Sete e meia, neste jogo as cartas têm o valor nominal sendo que as figuras valem meio ponto. O objectivo é fazer sete pontos e meio ou o mais próximo, caso ultrapasse, "rebenta" e perde o jogo. Para este jogo são retiradas do baralho as cartas com os números 8, 9 e 10.
  1. A banca distribuí uma carta a cada jogador, ficando também com uma para si próprio
  2. De seguida vai perguntando a cada jogador se quer mais cartas ou se fica como está
  3. Quando todos os jogadores não pedirem mais cartas, a banca depois de pedir ou não mais cartas para si, mandando mostrar o jogo a cada jogador conforme lhe palpitar se o jogador tem ou não bom jogo, podendo em cada caso pedir ou não mais cartas para si próprio. Em caso de rebentar paga a todos os jogadores que ainda estão em jogo.
  • Montinho, a banca faz cinco montinhos de cartas e pede que lhe seja atribuído um dos montinhos, por um dos jogadores. As cartas têm o valor nominal sendo que as "figuras" (dama, valete, rei) serão as mais fracas.
  1. Os jogadores apostam ou "carregam" os rebuçados nos montinhos que quiserem
  2. Depois das apostas feitas a banca volta o seu montinho mostrando a 1ª. carta de baixo
  3. Depois vai voltando cada montinho verificando igualmente a 1ª. carta debaixo, perdendo ou ganhando conforme a sua carta é mais forte ou mais fraca que a do montinho em causa.
  • Pilha, este era o jogo com que por vezes se terminava a rifa. Os jogadores que entrassem neste jogo apostavam tudo o já haviam ganho durante todos os jogos da sessão.
  1. Baralham-se as cartas
  2. Os jogadores colocam todos os seus rebuçados no centro da mesa
  3. A banca vai distribuindo, uma a uma, as cartas pelos jogadores incluso para si próprio e mostrando o valor da carta que ficará virada para cima, no acto de dar 
  4. O jogo termina quando sair o "Pilha" (ás de oros)
  5. O jogador a quem sair o "pilha" arrecadará todos os rebuçados da mesa
Resta dizer que a "banca" era atribuída ou comprada por um jogador mais hábil, caso contrário poderia dar-se a sua falência e teria de ser entregue a outro jogador.

No final da época a rifa rendia uma pequena renda á sua organizadora que normalmente ajudava na compra de alguma peça de vestuário.


1 comentário:

  1. Que Deus me perdoe, mas as Rifas também não eram tão inocentes e isentas de pecaminosas intenções, como se pudesse imaginar, para uma quadra de "defeso" como é a Quaresma. Se o baile proporcionava às costumeiras controladoras o apreciado espectáculo do arrimanço e furtivo beijinho, nas rifas eram elas as próprias a reservar as mesas redondas e os assentos para os casalinhos de pombos mais pretensamente apaixonados, ou mais efusivos no uso de linguagem e piadas brejeiras com alusão á shota (sota ou dama) de ouros, áz de copas,cavalo de pau(s)e outros comentários patèticamente repetidos para seu gozo e divertimento, para além do jogo escondido debaixo da mesa.

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JJ Rodrigues