As Canhas são grutas escavadas nas antigas Noras ...
No acesso diário entre a aldeia e a cidade, comecei a ver construir na rotunda do antigo cruzamento do “Bolas”, um “engenho” de nora.
Assimilei esse engenho ao símbolo no brasão da nossa freguesia e comecei a rever toda a minha infantil memória de Noras e engenhos.
Por toda a freguesia da Conceição de Faro haviam Noras de um, dois e até três engenhos!
Nestas recordações uma palavra surgiu que me prende a atenção.
Na verdade esta é uma das palavras que caindo em desuso, saiu do nosso vocabulário.
Essa palavra é a “Canha”.
As “Canhas” são grutas escavadas nas antigas “Noras” .
Quando se abria uma Nora e ao fim dos vinte ou trinta metros de profundidade não se tinha a sorte de encontrar a desejada água, tentava-se encontrá-la escavando uma Canha que partindo do fundo da Nora, na horizontal, se estendia ás vezes até mais de cinquenta metros na direcção onde se julgava poder encontrá-la.
Tal estratagema umas vezes resultava outras não.
Mais tarde quando os tradicionais engenhos de alcatruzes começaram a ser substituídos por bombas de superfície, essas bombas tinham dificuldade em puxar a água a mais de 7 metros de profundidade.
Abria-se então uma Canha mais próximo do nível da água e instalava-se a bomba. Esta Canha era acedida por um buraco lateral á Nora que facilitava o acesso á bomba.
No inverno era necessário retirar a bomba antes da subida da água, voltando a recolocá-la no inicio do verão, tornando bastante útil a Canha e o seu acesso.
Outra solução surgiu quando se começou a instalar a bomba numa plataforma amovível no interior da Nora, podia-se desta forma controlar a altura da instalação.
As bombas submersíveis acabaram com o problema e actualmente através dos "Furos", vão buscar água a muitos metros de profundidade.
Volto ainda ao "Engenho" de Nora para tentar descrevê-lo tal como o recordo.
O engenho era composto por um "varal" preso a uma roda dentada colocada na horizontal que por sua vez encaixava noutra igualmente dentada colocada na vertical. O eixo da roda na vertical por sua vez ligava numa roda maior, na qual era colocada a "corda dos alcatruzes".
Esta corda de ferro, era formada por elos rectangulares com o comprimento um pouco maior que os alcatruzes.
Os alcatruzes, eram vasos rectangulares, fabricados em chapa zincada, com uma base direita que ia enganchar na corda e outra em forma semi-circular, com um pequeno orifício no fundo, a fim de facilitar a saída do ar quando entravam na água, para encher.
Um tabuleiro igualmente em chapa de zinco, para receber a água que sai dos alcatruzes está ligado através de uma "levada" ao tanque.
No inicio o engenho era movido por animais e já na parte final da sua utilização foi adaptado para funcionar ligado através de correia a motores a diesel ou eléctricos.
Ainda hoje nalguns locais da nossa freguesia se podem encontrar engenhos destes a funcionar.
A Nora era escavada á mão com o auxilio da pá e picareta. Trabalho árduo, difícil, efectuado por 4 ou 5 homens sendo que dois ficavam fora do buraco da Nora, para através de um sarilho, puxarem para fora, a terra que os outros dentro da Nora iam escavando e colocando dentro de uma caixa de madeira.
Depois de feito o buraco as paredes eram revestidas, a tijolo maciço ou pedra. A partir dos anos sessenta começou a usar-se anéis em cimento armado que com moldes em ferro eram feitos no local.
Como curiosidade diga-se que os alcatruzes que caiam da corda para o fundo da Nora, eram apanhados por um homem que a troco de alguns tostões por cada alcatruz que conseguia recuperar, mergulhava e apanhava os alcatruzes colocando-os dentro dum covo de rede, atado a uma corda, para no final os içar para fora da Nora.
Actividade perigosa tendo em conta que por vezes tinha de mergulhar a 6 ou 7 metros de profundidade, sem qualquer outro auxilio que não fosse o covo e a respectiva corda.
Um dos mergulhadores mais famosos na Conceição de Faro, foi o Hermínio Cristina, homem que passou grande parte da sua vida fazendo Noras.
Quando não tinha trabalho oferecia-se para esta tarefa a troco de algum dinheiro.
"Conceição freguezia derramada por cazaes a N.O. de Faro, quasi toda em terreno plano e de boa produção de cereaes e algum figo. Igreja mediana em fábrica, junto á ribeira que vêm á ponte do Rio Secco na estrada de Faro, só com casas do parocho ao pé, o qual pagava outr´ora 400 réis por anno ao prior de S. Pedro de Faro, de reconhecença. Confina com Estoi ao N., S. João da Venda e Stª. Barbara a O., Faro a S., Pexão a E. ... antigo curato de apresentação do Bispo no termo de Faro..."
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JJ Rodrigues