sábado, 3 de outubro de 2009

CONDUTO

"... acompanhava o pão, nas refeições..."



Conduto é uma palavra caída em desuso e hoje não faz sentido, sendo até desconhecida dos mais jovens.

Conduto era o que acompanhava o pão, nas refeições. As pessoas mais pobres faziam as refeições com um bocado de pão e o conduto.

Comia-se o pão atamancando o conduto que ia desde um simples punhado de azeitonas, até uma coisa mais rica como um pedaço de chouriça, de toucinho ou presunto. Ás vezes umas sardinhas ou carapaus assados nas brasas, fritos ou "alimados".

Um simples ovo frito ou omelete também servia de conduto.

No inverno, á falta de peixe fresco, as "sardinhas amarelas" (salgadas), comiam-se assadas na brasa, temperadas com azeite, servindo igualmente de conduto.

No rigôr do inverno até o figo seco ou torrado, servia de conduto, comendo-se com pão.

Sendo um alimento barato, o pão era a base de toda a nossa alimentação. Há alguns anos atrás, não havia refeição sem pão. Feito em casa cozido no forno de lenha.

Embora alguns homens também o fizessem normalmente cabia ás mulheres esta árdua missão, composta por várias tarefas.

Começando por "peneirar" a farinha de trigo, para lhe retirar o farelo, coloca-a num alguidar de barro, junta-lhe um pouco de sal, água morna, fermento e batata doce cozida, para amassar.

O fermento utilizado é nem mais nem menos, do que um pouco de massa da amassadura anterior, de há uma ou duas semanas atrás .

Amassar significa aos poucos, ir misturando a farinha com a água morna, o fermento e a batata doce cozida, para formar uma massa que é calcada (socada) enérgicamente com os punhos fechados, voltando-a e tornando a voltar, até estar bem misturada.

Depois de bem amassada, tapa-se para não arrefecer e espera-se que levede. Levedada a massa que no inicio ocupava metade do alguidar, crescerá, quase extravazando no rebordo superior e estará pronta para "tender" os pães.

Tende-se o pão retirando um pedaço de massa do alguidar, colocando-o sobre a tábua de tender, pulvilhada com um pouco de farinha, enrola-se modelando a massa com ambas as mãos, dando-lhe o feitio do pão pretendido.

Num tabuleiro de madeira previamente forrado com um pano limpo, coloca-se o pão assim tendido, volta-se a tapar, esperando que termine o processo de levedura, para poder ir ao forno.
Para ver se levedou bem, ao tender faz-se um sinal mais ou menos profundo na cabeça do pão que ao fim da levedura deverá desaparecer completamente.

Por vezes com os restos da massa, faz-se um ou mais "brandeiros" (pães pequenos) no interior dos quais se coloca ou não, um pedaço de chouriça ou toucinho.

Também com a farinha que se retira da peneira mais fina, ou seja com um pouco de farelo á mistura, faz-se um pão "ralão", mais grosseiro e menos apreciado.

No forno aceso, se necessário põe-se mais lenha, com a ajuda do "forcado". O solo, as paredes e a abóbada deverão ficar completamente brancos, sinal de bem aquecidos. Finalmente com o "rodo" puxam-se as brasas para a entrada, retirando-as. Com as "toucas" limpam-se as cinzas, do solo, onde com a pá, se colocará o pão para cozer.

Antes de fechar a porta do forno, deita-se supersticiosamente algumas pedras de sal sobre as brasas acumuladas á entrada e com a pá fazem-se duas cruzes sobre a frente tisnada do forno, murmurando-se "Deus te acrescente!"
"Cada estalinho cada saltinho,"
crê-se que a cada estalinho do sal, corresponda um saltinho no crescimento do pão.
Na verdade, se bem amassado, levedado e cozido, o pão crescerá quase para o dobro do tamanho que tinha ao entrar para o forno.

Durante a cozedura é preciso vigiar e com a pá efectuar pequenos movimentos no pão deslocando-o no solo, de um lado para outro, para que não se queime.
Se o forno estiver demasiado quente, entreabre-se a porta e destapa-se o "ouvido" para que respire e perca um pouco de calor.

Depois de cozido, retira-se do forno com a pá, limpando algumas cinzas que possam ter ficado na sua base.
Volta a ser guardado no tabuleiro de madeira, com um pano e um cobertor, tapa-se bem para que não apanhe demasiado ar e endureça.
Para melhor o conservar algumas pessoas passam-lhe um pouco de azeite, pela côdea ainda quente.

Feito desta maneira, o pão conserva-se em condições de ser consumido, ao fim de uma ou duas semanas.

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JJ Rodrigues