domingo, 27 de setembro de 2009

BOLA DE CATCHUGO

"... Que o Padre Jorge guardava fechada á chave, num armário."


Dois dias por semana, no final das aulas, as duas senhoras esperavam-nos á saída da escola primária, para nos levarem para a sacristia onde nos ensinavam a catequese.

Os rapazes ficavam a cargo da D. Rosárinha que com muita simpatia, bondade e paciência, ia-nos ensinando os “Mandamentos da Lei de Deus” misturados com padres-nosso e ave-marias.

Para nos manter atentos, calmos e disciplinados, a promessa, quase sempre cumprida, de no final, podermos jogar com a “bola de catchugo” que o padre Jorge guardava fechada á chave, num armário.

Poder jogar um jogo de futebol, no adro da igreja, com a bola de catchugo, era o prémio da nossa assídua presença com bom comportamento, na catequese. Por isso quase desejávamos que viesse o dia da catequese, para termos de novo a bola.

O padre Jorge sabia perfeitamente o nosso interesse e usava-o em seu proveito. Sempre que necessitava de alguma colaboração dos rapazes, para qualquer tarefa, prometia-nos a bola de catchugo.
Os jogos começavam sempre com o mesmo ritual. Todos encostados á parede e os capitães de equipa iam escolhendo á vez. Assim divididos iniciávamos os jogos com um numero incerto de jogadores de cada lado.
As balizas eram marcadas com duas pedras cada ou com alguma das nossas próprias peças de roupa.

Mas as coisas nem sempre corriam bem. Ou era porque discutíamos qualquer situação do jogo e acabávamos á pancada, ou porque o padre por ter outros afazeres, retirava-nos a bola antes do tempo, causando sempre muitos protestos.

Certa vez, necessitando de ajuda para montar o arraial da festa, em honra de Nª. Senhora da Conceição, o padre Jorge, prometeu-nos mais uma vez, a bola, se o ajudássemos a colocar a gambiarra de lâmpadas que iriam iluminar o adro.

Cerca de trezentas lâmpadas que eram preciso enroscar nos casquilhos, já colocados na gambiarra que iria circundar todo o recinto.

Tentámos executar a tarefa rapidamente para ter algum tempo de sobra para jogar á bola.

Tudo estava bem encaminhado, as lâmpadas colocadas, a gambiarra já presa nos paus que a suportavam, apenas faltava prender uma das pontas.

Inesperadamente eis que surge no adro, a desejada bola de catchugo! Descuidadamente o padre Jorge deixou aberto o armário onde a guardava e um atrevido, descobrindo a bola, apressou-se a atirá-la para o meio do largo.

Ninguém mais quis saber das lâmpadas, nem da gambiarra. Quem segurava a ultima ponta largou-a, correndo para a bola.

Ouve-se um grande estrondo. Todas as lâmpadas dessa parte da gambiarra rebentam no chão!

O padre Jorge, muito irritado, corre a recolher a bola.

Acabou-se!

Grita. Não há mais bola! E não houve...


Durante mais de 3 meses não jogámos á bola, com a de catchugo!

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JJ Rodrigues