quarta-feira, 10 de junho de 2009

CONCEIÇÃO ANOS 50 - II

"Os Guardas de pau ..."


Freguesia rural, Conceição de Faro vive das sementeiras quer de sequeiro, onde não há água, quer de regadio, nas hortas onde a água é abundante.

As zonas mais altas da freguesia, sítios do Outeiro, Laranjeiro, Chaveca, Caliços, Ferradeira, Pão Branco, Chão de Cevada, Torre de Natal e Bela Curral, não existe água, são de “sequeiro”.

O sequeiro cultiva-se aproveitando as chuvas do inverno e da primavera, trigo, cevada, centeio, aveia, fava, griséu, ervilha, grão-de-bico.

Colhem-se das árvores frutos como amêndoas, alfarrobas, azeitonas, ameixas, figos, romãs e uvas.

Criam-se galinhas, coelhos, pombos, ovelhas, cabras e porcos.

Utilizam-se para os trabalhos da lavoura e de transportes, animais como, burros, mulas e éguas. Os cães ajudam na guarda das casas e na caça. Os gatos dão caça aos ratos.

Das colmeias retiram-se os favos e cresta-se o mel aproveitando-se também a cera.

As casas muito simples, cujas paredes são fabricadas em pedra sílex ou caliço (calcário), assentes com uma mistura amassada de cal, areia, água, com a qual são igualmente rebocadas.

É com a cal que são caiadas (pintadas) de branco, quer no interior quer no exterior
O telhado é feito de esteira de cana, coberta no exterior por telha de barro em forma de canudo.

O pavimento é revestido de ladrilho rectangular fabricado igualmente de barro.

A principal divisão é a “casa de fora” ou seja a sala de entrada na casa.
Sendo a maior divisão da casa, é na “casa de fora” que se fazem as festas de família e até se velam os mortos antes de irem para a igreja.

É também na "casa de fora" que á noite, ao serão, se fazem algumas tarefas do dia a dia da família, como sejam o tratamento das roupas, a escolha e separação de alguns frutos secos, etc..
Nesta sala, varias portas dão acesso a outras tantas divisões, como quartos e cozinha.

As refeições das pessoas da casa são tomadas na cozinha. Quando envolvem mais pessoas tomam-se na “casa de fora”.

Encostados á parede frontal exterior da casa, existem poiais de pedra onde nos podemos sentar.

O forno de pão existe em quase todas as casas. Feito igualmente de caliço, massa de cal e areia, leva uma abobada feita em tijolo de barro maciço (tijolo de burro)coberto com cascas de berbigão, o que acontece também ao solo, antes de ser revestido a ladrilho de barro.
Na frente, a porta de ferro, tapa a entrada em tijolo de burro. Atrás um respiradouro que se tapa e destapa conforme os casos, a que chamamos “o ouvido”.

A cabana do gado ou seja o local onde á noite se recolhem todos os animais, fica junto á casa, existindo até nalguns casos uma porta de ligação com a “casa de fora”.
Os porcos têm também junto á casa uma instalação própria a que chamamos pocilga ou chiqueiro.

Nas casas um pouco mais ricas, os tectos em vez de canas, são feitos de abobada de tijolo de burro e em frente á casa existe uma cisterna que recolhe a água dos telhados no inverno para se consumir no verão.
A cisterna está envolta por um pátio e próximo da casa existe a eira onde se debulham e tratam os cereais.
O figo seca-se em esteiras, no pátio, na eira ou nas açoteias.

A vida corre devagar. Não existe automóveis, as pessoas movimentam-se a pé, a cavalo do burro, da mula ou nos respectivos carros puxados por estes animais.
Aqui e ali uma ou outra bicicleta a pedal, não há dinheiro, nem utilidade para as motorizadas que começam a aparecer.

A protecção das colheitas, é feita pela Guarda Nacional Republicana em patrulhamentos apeados ou cavalo que devido á escassez de meios quase não existe.


São os “guardas de pau” que desempenham a tarefa.
Estes homens armados com um “pau”, dispõem-se a vigiar e guardar as colheitas, (amêndoas, alfarrobas, figos e uvas) em nome e mandato dos legítimos proprietários, evitando que sejam roubadas.
Em troca recebem uma pequena retribuição monetária.
Anualmente constituiem-se em grupo de três, actuando por vezes sozinhos, mas a maioria das vezes é o grupo completo que efectua a patrulha.
Nomes como os de Joaquim Caco, Farrajota, Severiano e Pala de Mota, são os que me ocorrem, por serem os que mais vezes desempenharam essa tarefa.

1 comentário:

  1. Não sou algarvia, mas por todo este Portugal há relatos deste género. Alturas em que parecia que o tempo esperava...
    Obrigada pela descrição.
    CC

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JJ Rodrigues