quinta-feira, 25 de junho de 2009

ASSOMBRAÇÕES E OUTRAS MALDIÇÕES

"Famoso Lobisomem!..."


Antigamente na Conceição de Faro, eram muitas as histórias sobrenaturais que se contavam.
Inventadas umas, criadas a propósito outras, traziam as pessoas mais crentes, numa constante preocupação para evitar os locais onde por azar se pudessem encontrar com tais seres.
Fantasmas, almas penadas e do outro mundo, lobisomens, bruxas, eram coisa que não faltava.

Sendo assim, segundo a crença eram de evitar passar nas encruzilhadas dos caminhos, á meia-noite principalmente em noites de lua cheia.
Andar sozinho, por lugares escuros com muitas sombras também não era aconselhado.
Entrar em casas abandonadas era encontro imediato com fantasmas.

O velho “Chelila”, homem a quem era atribuído um dom sobrenatural, transformava-se ora num cão, ora num burro, conforme a vista (ou a falta dela) e a imaginação de cada um. Era por assim dizer um famoso “Lobisomem”!

As bruxas tinham fama de más e o melhor era não cair nas suas mãos que nos rogavam uma praga para nos dar cabo da vida!

As almas penadas ou do outro mundo apareciam sempre que era preciso assustar alguém. Surgiam envoltas num lençol branco, com uma luz tremelicante que punha ainda mais tremelicante quem as encontrava.

As pessoas livravam-se destes males, fazendo o sinal da cruz ao mesmo tempo que murmuravam “valha-me Deus, nosso Senhor!”.

É claro que isto era para os cristãos porque os outros, não sabemos como se safavam!

A propósito de “almas penadas” vem-me á memória, uma pequena história que se passou há muito tempo atrás.

Sendo muito jovens e a trabalhar fora de casa, os meus pais punham-me muitas vezes na casa dos meus avós.

Este episódio ocorreu na casa do meu avô Lopes e avó Gertrudes.

Era já noite escura. Em casa, só estávamos eu e o meu avô que tal como eu estava sentado junto á fornalha da cozinha, onde preparava uma panela de xarém.
Não gostando de xarém, eu gostava de lamber os restos que ficavam no colherão de pau.
Sabendo disso, o meu avô mexia a panela e logo me entregava o colherão coberto de xarém para que eu comesse. No final quando o xarém estivesse pronto eu tinha jantado! Xarém!
Era um pouco tarde, o xarém leva tempo a fazer. Com o estômago meio aconchegado, o calor do fogo, o sono a chegar, era a custo que mantinha os olhos abertos.

Uma aparição inesperada, fez-me despertar ao mesmo tempo que assustado dava um salto para junto do meu avô de tal forma que por uma palha não aterrava dentro da panela do xarém.
Um grande vulto envolto num lençol branco, dentro do qual se via uma luz tremelicante, apareceu na porta da cozinha! Era uma alma penada ou do outro mundo, concerteza!

Tremendo por todo o lado, refugiei-me atrás do meu avô que ficou imóvel. Ele conhecia bem aquela alma penada.
Era afinal a minha avó que gostava de assustar as pessoas! Só acalmei quando ela tirou o lençol mostrando a cara. A luz tremelicante era de uma vela que trazia na mão.

Soube mais tarde que a minha avó Gertrudes era useira e vezeira, nestas coisas. Gostava de assustar as pessoas. Trazia a vizinhança toda assustada, falando de “almas penadas ou do outro mundo”!

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JJ Rodrigues