domingo, 24 de maio de 2009

A CASINHA DA POLVORA

" Grande motivo da minha curiosidade!... "

Situo esta pequena história, entre os anos 1958 e 1959.

Morando na casa onde nasci, no sitio dos Caliços, comecei a ir para a escola pelo caminho que me parecia mais fácil, passando entre as casas do ti' Chico Graça e da ti' Casaca, tinha ao meu lado direito, a Ermelinda Charra, o António Fitas, a Virgínia Graça e no lado esquerdo, o João Lentes, o Praxedes, descendo a ladeira do Sambraseiro, tinha O Zé Martinho, a Bia Martinho e no outro lado o Joaquim Pézinho, o Chico Serro, até ás casas do Luís Portinho, seguia para a casa do mestre Armando Cardoso, avistava sobranceira no alto, a Quinta do Outeiro, do Joaquim Baptista, aí voltava em direcção á aldeia, sempre a descer, passava pelo mestre Zé Rola, sapateiro, o Sr. Melo, "canastreiro", a menina Olívia, á direita tinha as Bispas e o Pardal, passando entre a venda do Zeca e a do senhor Manuel, a Casa do Povo ficava do lado esquerdo, assim como o salão de chá (casa paroquial) a igreja mesmo em frente á direita, atravessava o adro e chegava à escola nova, onde a senhora Olga que era a continua nos esperava á porta.

Na sala dos rapazes, já preparada para iniciar a aula, estava a “velha”, professora Dona Maria.

Na outra sala, a das meninas era a professora Dona Angelina que leccionava.

A aula decorria entre as 9 e as 15,30 horas, com uma hora de intervalo para o almoço o que nós fazíamos em pouco mais de dez minutos ficando com o resto do tempo para brincar. A meio da manhã também tínhamos um intervalo para o lanche que aproveitávamos para mais umas brincadeiras

Jogar ao pião e ao berlinde eram as brincadeiras preferidas, mas muitas vezes também jogávamos ao “coito”, nome que dávamos ao jogo das escondidas.

No outro lado do arame, não eram permitidas misturas, as meninas brincavam á “boneca” e ao “calhau”.

Na sala de aulas equipados a rigor com os nossos “bibes” brancos, se não fosse o corte do cabelo, parecíamos todos meninas.

No regresso a casa fazia o mesmo caminho.

Uma ou outra vez, deixava a estrada, aventurando-me por terrenos que os meus 7 anos de idade, ainda não me permitiam conhecer bem.

Gostava de seguir pela vereda que serpenteando junto ao “arrife de pedra” começava a curta distância da aldeia, seguia para nascente em direcção a Pechão e me passava mesmo em frente á porta da casa.

Por vezes assustava-me julgando ver a lendária "cobra" gigante que andava por ali e que segundo se consta, certa vez, fez perder a coragem a dois dos homens mais fortes e destemidos da nossa freguesia que foram o Joaquim Poeira e o Cesário Mariano.

Diz-se que andando os dois á caça, na fazenda do Agostinho, o Poeira que levava a arma viu enrolada no pé de uma alfarrobeira, a tal dita cobra gigante e não achando coragem para atirar, voltou para trás entregando a arma ao Cesário que ao ver o monstro, se apressou a voltar para trás, sem lhe fazer um único tiro. Ainda há bem pouco tempo alguém avistava o citado animal que por ali anda!

Utilizando este trajecto, eu passava entre tojos, tomilhos, aroeiras e traviscos, um pouco a norte do mato do “Goela” e embora a medo, por vezes ousava aproximar-me do grande motivo da minha curiosidade que era não a cobra, mas a casinha da pólvora ou do fogo, como lhe chamávamos, uma pequena fábrica de pirotecnia, onde se faziam os foguetes, as árvores de fogo, as bombas e as becheninas que abrilhantavam todas as festas das redondezas, como a de S. Luís, a de Nossa Senhora da Conceição e as dos Santos Populares.

É claro que ali se fabricava fogo para muitas mais festas mas estas eram as que se comemoravam na nossa aldeia.

Um acidente causou grande estrago, rebentando com todo o fogo que já estava preparado para as festas.

Passado pouco tempo, outro acidente, desta vez mais grave e terrível, destruiu toda a casa, custando a vida a um dos piro técnicos que lá trabalhavam e fez encerrar definitivamente a fábrica.

Também eu, ainda antes de terminar o primeiro ano escolar, mudava-me para o Sitio do Besouro, alterando todo o percurso diário para a escola.

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JJ Rodrigues