quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

A casa do Povo da Conceição

O amigo José Mateus tem toda a razão no que descreve e escreve no Jornal Região Sul. É por isso com toda a justeza que faço eco das suas palavras neste espaço, dedicado aos Amigos da Conceição.
JJ Rodrigues

A casa ...do Povo da Conceição

Conceição, freguesia rural mais próxima de Faro, capital de Distrito, dotada de grande potencial agrícola na década de 1950/60 era por isso uma das mais ricas da região naquela época. As amêndoas e alfarrobas tinham bastante valor nessa altura e no Café Aliança, em Faro, reunia-se a nata dos comerciantes algarvios de frutos secos - era a “bolsa” dessa época.
Muitas vezes, acompanhei meu pai nas suas idas semanais (ou bi-semanais em época alta) ao Aliança, onde os grandes comerciantes da região fixavam os preços, por uma semana, a pagar pelos frutos secos.
Não existiam telemóveis, nem Internet e nem tão pouco se falava do fax. O telefone era de magneto e assistido por telefonistas. A telefonista de serviço no Aliança - entre outras, a D. Rosália - estavam constantemente a chamar à cabine telefónica... era a tarde inteira nisto: “chamam ao telefone o senhor...fulano de tal !...”
Enfim, para além de jornalista, correspondente de “O Século”, com quem eu próprio dei os meus primeiros passos na profissão que me há-de marcar para o resto da vida, o José Martins Moreno, acabaria também por ser Escriturário na Delegação da Casa do Povo de Estoi, na Conceição, por onde o médico Dr. Leiria (pai do conceituado cardiologista estabelecido em Faro, Dr. Gago Leiria), passava uma vez por semana para dar meia dúzia de consultas ao povo da Conceição. O Sr. Cabral - de nome completo igual ao descobridor do Brasil de 1500 - Pedro Álvares Cabral - era quem dava as injecções e também guardava a bola com que a equipa capitaneada pelo José Silvino treinava durante a semana (no largo da igreja) e ao fim-de-semana defrontava nos melhores campos de futebol da região (Estoi era a “casa” da equipa da Conceição) as equipas constituídas por semi-amadores que acabavam por conquistar os torneios da FNAT e mais tarde do INATEL.
Volto ao José Martins Moreno para recordar que ele fora também o Regedor da Freguesia da Conceição de Faro até à extinção dessa “função” e, por isso, após o 25 de Abril de 74, facilmente se percebe que o seu lugar entre o povo tinha sido preterido, apesar de em toda a sua vida ter lutado em defesa da sua terra e dos valores locais.
Era um inconformado com muitas situações de desigualdade e sempre esteve ao lado dos mais desfavorecidos. Mas serviu o regime de Salazar e pronto... estava tudo dito!... Talvez por isso, apesar de ter sido o “embrião” do processo de criação da Casa do Povo, pedindo insistentemente ao seu irmão em Lisboa, o Major Mateus Martins Moreno, para interceder junto do Poder Central (até por ser militar no activo) para que a Casa do Povo da Conceição fosse separada da de Estoi e depois, mais tarde, que a sede fosse edificada, a sua intervenção tenha ficado quase no esquecimento.
Moral: dos fracos não reza a História.
Contudo, é hora de lhe prestar a devida homenagem, não sem antes recordar que normalmente é pela honestidade que a fraqueza do homem vem ao de cima.
Aliás, os calados nem sempre vencem, contrariando o que é usual dizer-se, de que "o calado vence tudo!..".
Mas dos charlatães e dos ricaços todo o mundo fala... portanto... Ele sempre foi um homem, lutador, honesto, recto, mas silencioso e de poucos haveres.
Reconheça-se pois o valor do Major Moreno, o porta-voz em Lisboa do processo originário do Povo da Conceição, que o José Martins Moreno serviu e também soube representar até praticamente ao último dos seus dias, com brio, honra, sensatez e honestidade.
À Casa do Povo da Conceição, seus actuais dirigentes, funcionários e colaboradores nas diversas actividades em curso, as minhas sinceras felicitações e o meu bem hajam por manterem em actividade plena a casa ...do Povo da Conceição!
José Mateus Moreno

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JJ Rodrigues