domingo, 31 de maio de 2009

CONCEIÇÃO ANOS 50


(Imagem de Lavoura com mula)

"A nossa aldeia ..."

No início da segunda metade do século vinte, os cerca de vinte fogos que compunham o núcleo da nossa aldeia, alinhavam-se frente a mais ou menos duzentos metros de empoeirada estrada de “macadame” que vem desde a cidade de Faro, a sul, passa pela aldeia e segue para norte, para Estói. No centro, junto á igreja, no entroncamento deriva a estrada para a Chaveca e outros destinos. Resultando daí três ruas com os nomes de Rua da Igreja, Rua de Estói e Rua 1º. de Maio.

No centro da aldeia, a histórica igreja de Nª. Sª. da Conceição que lhe deu o nome. A sul, a menos de cem metros, o cemitério.

A Freguesia tem a sua Junta, eleita politicamente para a administrar. Conta também com o “Regedor”.

A Casa do Povo que era delegação de Estói, após alguns anos de luta consegue em 1958 o seu Alvará. Abre a sede para apoio á população da freguesia, contrata um médico, um dentista, presta serviço rudimentar de enfermagem e cria o princípio de um “banco alimentar” que distribui alimentos pelos necessitados. Organiza uma biblioteca, o rancho folclórico e a equipa de futebol.

A escola primária, desde há muito tempo que funciona em duas salas alugadas. A das meninas fica em frente ao adro da igreja, na mesma rua mas um pouco mais a sul, a sala dos rapazes.
Finalmente é construída de raiz, uma escola primária, com duas salas, casas de banho, pátio e recinto para o recreio.

As tradicionais “vendas”, são três. Funcionam como é uso na época, como mercearias, tabernas, armazéns de frutos secos, cereais, farinhas, adubos e combustíveis.

Aos domingos á noite, num salão apropriado para o efeito, realizam-se os “bailes”, anunciados ao final da tarde por dois foguetes e um morteiro, como chamariz!

A completar os serviços, na aldeia, podemos contar com o abegão, o ferreiro, a costureira, o sapateiro, o barbeiro e o carteiro. Um pouco mais tarde também um alfaiate, se veio estabelecer.

Na igreja, o padre e o sacristão, garantem o serviço religioso. As catequistas ensinam “Os Mandamentos da Lei de Deus”, preparando-nos para a comunhão.

Não existe água canalizada, nem esgotos. A aldeia abastece-se na nora do Joaquim Mariano. A água é transportada nos carros de mão, em cântaros de barro ou de zinco.
A ribeira que passa junto á aldeia e corre até ao verão, dá também algum desafogo principalmente na lavagem da roupa.

Nos anos sessenta passou a haver telefone público, serviço de telegramas. O correio chega de autocarro, num saco fechado que o carteiro recolhe e abre, para efectuar a distribuição. O saco regressa pelo mesmo meio com a correspondência a enviar.
O autocarro não passa pela aldeia, o saco é recebido e reenviado na “paragem” do Paço Branco.

As hortas do Joaquim Mariano, da Bispa, do Isabelinha e da Caldeirinha, junto á aldeia garantem alguma batata, feijão, milho, fruta e legumes. No resto toda a aldeia é envolta por amendoeiras, alfarrobeiras, figueiras aparecendo aqui e ali, uma ou outra oliveira. O mesmo acontece praticamente em toda a freguesia.
No sequeiro semeia-se fava, griséu, ervilha, grão-de-bico e cereais principalmente trigo, cevada, centeio e aveia.
A dieta alimentar completa-se com carne de porco, galinha, coelho, borrego e cabrito que são criados a propósito.

O pão, alimento essencial, é feito em muitas casas, mas também se pode comprar nas mercearias.

No sequeiro, o burro e a mula, são preciosos auxiliares na lavoura e no transporte enquanto no regadio existem também as vacas e os bois.
Nas hortas são as vacas e os burros que presos nos engenhos tiram a água das noras, começando a ser substituídos pelos potentes motores a diesel.

A população idosa da freguesia é essencialmente rural e pouco letrada, não indo na esmagadora maioria além da escola primária. Os seus filhos conseguem chegar até ao ensino secundário. Alguns, poucos vão até ás universidades.

Associadas á igreja temos a festa em honra de São Luís, padroeiro dos animais e a festa em honra de Nossa Senhora da Conceição.

O 1 de Novembro, "Dia de Todos os Santos", é reservado á romagem ao cemitério, em memória dos familiares já falecidos.

Festeja-se também o Ano Novo, os Reis, o Entrudo, o Dia de Maio, a Espiga, os Santos Populares e o Natal.

domingo, 24 de maio de 2009

A CASINHA DA POLVORA

" Grande motivo da minha curiosidade!... "

Situo esta pequena história, entre os anos 1958 e 1959.

Morando na casa onde nasci, no sitio dos Caliços, comecei a ir para a escola pelo caminho que me parecia mais fácil, passando entre as casas do ti' Chico Graça e da ti' Casaca, tinha ao meu lado direito, a Ermelinda Charra, o António Fitas, a Virgínia Graça e no lado esquerdo, o João Lentes, o Praxedes, descendo a ladeira do Sambraseiro, tinha O Zé Martinho, a Bia Martinho e no outro lado o Joaquim Pézinho, o Chico Serro, até ás casas do Luís Portinho, seguia para a casa do mestre Armando Cardoso, avistava sobranceira no alto, a Quinta do Outeiro, do Joaquim Baptista, aí voltava em direcção á aldeia, sempre a descer, passava pelo mestre Zé Rola, sapateiro, o Sr. Melo, "canastreiro", a menina Olívia, á direita tinha as Bispas e o Pardal, passando entre a venda do Zeca e a do senhor Manuel, a Casa do Povo ficava do lado esquerdo, assim como o salão de chá (casa paroquial) a igreja mesmo em frente á direita, atravessava o adro e chegava à escola nova, onde a senhora Olga que era a continua nos esperava á porta.

Na sala dos rapazes, já preparada para iniciar a aula, estava a “velha”, professora Dona Maria.

Na outra sala, a das meninas era a professora Dona Angelina que leccionava.

A aula decorria entre as 9 e as 15,30 horas, com uma hora de intervalo para o almoço o que nós fazíamos em pouco mais de dez minutos ficando com o resto do tempo para brincar. A meio da manhã também tínhamos um intervalo para o lanche que aproveitávamos para mais umas brincadeiras

Jogar ao pião e ao berlinde eram as brincadeiras preferidas, mas muitas vezes também jogávamos ao “coito”, nome que dávamos ao jogo das escondidas.

No outro lado do arame, não eram permitidas misturas, as meninas brincavam á “boneca” e ao “calhau”.

Na sala de aulas equipados a rigor com os nossos “bibes” brancos, se não fosse o corte do cabelo, parecíamos todos meninas.

No regresso a casa fazia o mesmo caminho.

Uma ou outra vez, deixava a estrada, aventurando-me por terrenos que os meus 7 anos de idade, ainda não me permitiam conhecer bem.

Gostava de seguir pela vereda que serpenteando junto ao “arrife de pedra” começava a curta distância da aldeia, seguia para nascente em direcção a Pechão e me passava mesmo em frente á porta da casa.

Por vezes assustava-me julgando ver a lendária "cobra" gigante que andava por ali e que segundo se consta, certa vez, fez perder a coragem a dois dos homens mais fortes e destemidos da nossa freguesia que foram o Joaquim Poeira e o Cesário Mariano.

Diz-se que andando os dois á caça, na fazenda do Agostinho, o Poeira que levava a arma viu enrolada no pé de uma alfarrobeira, a tal dita cobra gigante e não achando coragem para atirar, voltou para trás entregando a arma ao Cesário que ao ver o monstro, se apressou a voltar para trás, sem lhe fazer um único tiro. Ainda há bem pouco tempo alguém avistava o citado animal que por ali anda!

Utilizando este trajecto, eu passava entre tojos, tomilhos, aroeiras e traviscos, um pouco a norte do mato do “Goela” e embora a medo, por vezes ousava aproximar-me do grande motivo da minha curiosidade que era não a cobra, mas a casinha da pólvora ou do fogo, como lhe chamávamos, uma pequena fábrica de pirotecnia, onde se faziam os foguetes, as árvores de fogo, as bombas e as becheninas que abrilhantavam todas as festas das redondezas, como a de S. Luís, a de Nossa Senhora da Conceição e as dos Santos Populares.

É claro que ali se fabricava fogo para muitas mais festas mas estas eram as que se comemoravam na nossa aldeia.

Um acidente causou grande estrago, rebentando com todo o fogo que já estava preparado para as festas.

Passado pouco tempo, outro acidente, desta vez mais grave e terrível, destruiu toda a casa, custando a vida a um dos piro técnicos que lá trabalhavam e fez encerrar definitivamente a fábrica.

Também eu, ainda antes de terminar o primeiro ano escolar, mudava-me para o Sitio do Besouro, alterando todo o percurso diário para a escola.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

OS MAIOS


Á entrada desta aldeia
Está este boneco sentado
Foi bonita esta ideia
P'ra "O Maio" ser recordado!


"O Maio" tem tradição
Muito tempo a "atacar"
Hoje fazem na Conceição
Bonecos para recordar!


Com alguma imaginação
Brincam o velho e o novo
Mantendo esta tradição
Á porta da Casa do Povo!


Nesta pedra no banquinho
Está a terceira idade
Falando mal do vizinho
Criticando a mocidade!